Resenha #19 - Morte e Vida Severina
- João Andrade
- 4 de dez. de 2014
- 3 min de leitura
Título original: Morte e Vida Severina
Páginas: 176 Autor: João Cabral de Melo Neto Editora: Alfaguara Assunto: Poesia Dramática
Correndo atrás do prejuízo, aqui vai mais uma resenha do Desafio dos 10 Clássicos do Vestibular:
Antes de começar a resenha propriamente dita me sinto na obrigação de admitir que me senti como numa plateia de programa de televisão naquele momento que o apresentador chama a caravana do lugar de onde eu vim. Pois sim, quando os coveiros falam do cemitério de Casa Amarela, eu gritei e bati palma, mas era tanta desgraça que depois fiquei com vergonha. Mas a vida continua e a resenha também.
Já que comecei com exposição, me exporei mais uma vez (juro que é a última), somente há pouco tempo, coisa de meses, é que eu descobri que Morte e Vida Severina era inteiramente um poema. Apesar de eu já ter visto a adaptação teleteatral, a qual não entendi no momento por se tratar de uma narrativa cantada. Hoje, eu sei que se tratava dos diálogos retirados do poema dramático de João Cabral de Melo Neto recitados pelo elenco.

Quero registrar aqui meu ódio pelo autor, e por Dante e tantos outros que conseguem escrever poemas que são em si a narrativa integral. Já tentei me aventurar no campo da poesia, mas mal consegui passar de 10 linhas de uns poemas “pós-modernistas”, sem rima, sem cadência, sem nada, só palavras arranjadas de uma forma que me soasse Drummondiana, não que eu esteja me comparando a ele, é somente questão de estrutura física do texto.
Morte e Vidas Severina conta a trajetória de Severino tentando fugir da seca amarga do sertão indo para a cidade grande, Recife. A narrativa é muito real, extremamente palpável e surpreendentemente atual, talvez não na sua temática principal, mas os cercos dramáticos dessa peregrinação são tão reais na história quanto são na vida. A morte ainda assola Pernambuco, seja por violência, pela seca, pela exploração. Claro que as coisas hoje são outras, os grandes problemas foram contornados, mas também deram espaço a novos. Os coveiros ainda hoje discutem por conta da quantidade excessiva de trabalho, e não é exclusividade de um estado, é uma realidade universal, por mais que ignoremos nos encontramos dentro de uma situação semelhante a uma narrada em 1955 e já existente desde muito antes disso.

Não tenho muita propriedade para resenhar poemas, costumo ler, mas não tenho muito entendimento do assunto. Contudo fatos são fatos e meu chara tem em seu poema um rigor estético perceptível até aos meus olhos pouco letrados. O confecionalismo também é forte característica do poema. Os versos são sonoros e facilmente perceptíveis.
O poema, é, como diz seu subtítulo, Auto de Natal pernambucano, um auto, ou seja, um texto dramático com temática geralmente religiosa. Severino, depois de tanto desengano e tanta morte, chega ao Recife na noite de natal e é aqui, nessa noite, que o poema atinge no seu clímax. Não me estenderei mais na história, já que por mais que o livro tenha quase 60 anos, alguns podem considerar spoiler.

Morte e Vida Severina é mais um daqueles clássicos obrigatórios que parecem assustadores e te afastam pelo tamanho do seu valor literário, mas é uma leitura fácil, despretensiosa e fluida. Indico fortemente para todos os brasileiros interessados ou não em literatura e acho que deveria ser lei todo pernambucano ler esse livro pelo menos uma vez na vida. Indico também a adaptação teleteatral feita pela rede globo e a animação que eu não sei quem produziu, mas que é fantástica. Ambas indicação estão disponíveis do youtube para serem vistas a qualquer momento por qualquer pessoa. Veja! E o livro é de domínio público, então não tem desculpa.
Já leu Morte e Vida? Gostou? Tem algo a acrescentar? Comente sua opinião!
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