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Resenha #18 - Primeiras Estórias

  • João Andrade
  • 4 de dez. de 2014
  • 3 min de leitura

Título original: Primeiras Estórias

Páginas: 238 Autor: João Guimarães Rosa Editora: Nova Fronteira Assunto: Contos

Pois então, falta uma semana para o fim do prazo do desafio, mas eu correrei atrás do tempo perdido. Começando por Guimarães Rosa.

Depois de uma verdadeira batalha (já citada em um vídeo que vem vindo por aí) eu finalmente acabei o “Primeiras Estórias” de Guimarães Rosa. O livro é uma coletânea de 21 contos com temáticas e linguagem bem regionalistas, mesmo o autor já não se encontrando dentro da 2º fase do modernismo. Digamos que é um livro que exemplifica perfeitamente a transição entre a 2º e a 3º fase do movimento.

A edição a qual tive acesso, da Nova Fronteira, trás logo no inicio um prefácio que introduz muito bem o livro e situa o leitor dentro das “nuances” empregadas pelo autor dentro da obra. Ou seja, já peguei o primeiro conto tendo consciência da escrita peculiar do autor (peculiar não é bem a palavra, mas sejamos eufêmicos por enquanto), porém me deparei com algo apenas diferente, nada muito complicado, passei facilmente pelo conto sem nenhum problema. Isso, só para em seguida cair numa sequência de frustrações ao ler e reler os mesmo contos até 4 vezes para tirar um compreensão rasa do que eu tinha lido. Não me permito dizer que foram todos assim, alguns contos como “Espelho” me encantaram de um forma tão forte que eu o reli 3 vezes, não por falta de entendimento, pela pura e simples vontade de não sair nunca de dentro daquela narrativa.

Justiça seja feita, a leitura em si é sim bastante complicada e pesada, mas a grande parte da dificuldade que eu sentia na leitura era por estar lendo pelo celular. A estrutura gramatical já é um pouco diferenciada, dado o caráter experimentalista do autor e de toda 3º fase modernista, porém, no aparelho o pouco de ordem que se tinha era perdido por conta das reconfigurações do texto para a tela de poucas polegadas.

Após três meses de tentativas de leitura no celular, eu finalmente desisti. Resolvi mudar de vida e buscar um cópia mais confiável. Não pude comprar, pela urgência em que eu precisava do livro, também não consegui emprestado, muito menos da biblioteca próxima a minha residência, que está à beira do fechamento. No fim só me restou baixar o livro em pdf e lê-lo pelo computador. Para minha surpresa, ou não, a leitura se transformou. Reli o livro desde começo e tive uma experiência de compreensão recompensadora.

Alguns livros nos dão orgulho por termos os lidos. Seja pela dificuldade ou pela quantidade de páginas. No meu caso o livro foi esse. A razão disso é a linguagem que o autor emprega. Ele literalmente experimenta formas novas de comunicação. Ele inventa palavras, misturas outras já existentes, em alguns casos dá resignificação para elas, não respeita regras de pontuação e muito menos de acentuação. Todo esse estilo vocalizado que ele usa na escrita dá às estórias um caráter totalmente envolvente. Uma parte delas trata das melancolias da vida no interior como em “Sorôco, sua mãe e sua filha”, “Nada e a nossa condição”, “nenhum nenhuma” e algumas outras. Outra grande parcela dos contos trazem toques de inocência e infantilidade, através do ponto de vista de crianças: “As margens da alegria”, “A menina de lá”, “Partida do audaz navegante” e etc. O mais incrível é que apesar de tratar de uma temática reservada ao interior de (aparentemente) Minas, o autor consegue se expressar através de sentimentos universais que dão uma aura muito relacionável ao livro.

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Guimarães tem uma capacidade quase surreal de criar narradores tão diferentes e tão únicos sem perder a essência que ele carrega de si mesmo em cada uma das estórias.


Enfim, o livro é uma daquelas leituras obrigatórias para vestibulares ao redor do país e pode ser fonte de bastante proveito, desde que o leitor esteja disposto a sair da sua zona de conforto. Alguns contos podem te derrubar, mas tenta dar uma relida, procura um resumo, talvez entendendo a sinopse a leitura flua mais facilmente, mas atenção, só apele pelo fácil quando a leitura integral se mostrar impassível. Um livro fantástico, difícil e extremamente bem escrito. Grande Sertão: Veredas que me aguarde!


E você já leu Primeiras Estórias ou outro livro do autor? Por vontade? Obrigação? Compartilhe com a gente sua experiência. Comentários são sempre bem vindos.

 
 
 

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