top of page

Resenha #13 - A Casa dos Budas Ditosos

  • João Andrade
  • 8 de out. de 2014
  • 3 min de leitura

Título original: A Casa dos Budas Ditosos

Autor: João Ubaldo Ribeiro

Editora: Objetiva

Nº de páginas: 163

Assunto: Polêmica


Na penúltima semana de setembro aconteceu a Banned Books Week, uma semana dedicada a livros banidos. O movimento é de origem norte-americana, mas brasileiro é enxerido e eu brasileiro que sou não podia deixar de participar. Mesmo não tendo me manifestado publicamente, eu resolvi ler dois livros nacionais que figuram algum aspecto geralmente abominado pela sociedade.


Em um desses livros eu encontrei uma das escritas mais encantadoras da literatura nacional e me senti envergonhado por não tê-la conhecido antes. O livro é A Casa dos Budas Ditosos, do finado João Ubaldo Ribeiro, e mais uma vez deixo aqui minha revolta comigo mesmo por ter negligenciado esse autor por tanto tempo.

Apesar de controverso ao ponto de vista do livro, fiquei meio apreensivo por escrever a primeira resenha com classificação indicativa do blog. Minha apreensão não é em falar o que tem que ser falado, é em ser lido o que tem que ser lido. Meu medo não é de mim, é de você que está lendo. Falar de sexo é sempre meio complicado. SEMPRE. Tudo depende muito do seu ponto de vista, suas experiências e até mesmo sua criação e a construção da sua personalidade. O que muitas vezes é um choque para maioria pode não ser tão terríveis para pessoas com grau menor de pudor.


O livro foi publicado em 1999 e foi uma encomenda da editora Objetiva para uma coleção chamada Plenos Pecados, naturalmente que o pecado referente ao nosso referido é a luxúria. A história é narrada como sendo uma fita de áudio enviada ao autor por uma mulher já na casa dos 68. Ela conta que prefere mandar a história dela em áudio e dá toda liberdade ao escritor de alterar os fatos que ela mesma podia ter alterado. Só daí já se tira que o livro tem uma narrativa extremamente natural e “oralizada”.


“Decidi fazer este depoimento inicialmente de forma oral, em vez de escrita, pela razão principal de que é impossível escrever sobre sexo, pelo menos em português, sem parecer recém-saído de uma sinuca de baixo meretrício ou então escrever “vulva”, “vagina”, “gruta do prazer”, “prazer túmido” e “penetrando bruscamente”. Falando, fica mais natural, não sei bem por quê.”


O livro tem muitos termos em outras línguas, mas não é nada complicado, só pelo contexto dá pra entender muito bem a mensagem. Tem também algumas palavras escritas erradas propositalmente para dar maior alusão ao fato de o livro ser um discurso falado. Mesmo com isso, a escrita é muito simples e fluida, como se já não fosse rápido o suficiente, o livro também é curtíssimo (merecia pelo menos umas 100 páginas a mais).

a-casa-budas-ditosos-joo-ubaldo-ribeiro-col-plenos-pecados-18665-MLB20158363187_

A narradora conta sua história sem cronologia alguma, ela vai só narrando as memórias da vida dela relacionadas ao sexo. Os principais temas abordados são os mais polêmicos dentro do sexo, que já é polêmico. Através de exemplos, ela aborda relacionamentos abertos, zoofilia, homossexualidade e incesto. Tudo fica bem claro quando ela sita que os três grandes amores da vida dela foram Fernando, seu marido, que compartilhou de boa parte das aventuras sexuais da esposa; Uma aeromoça, que apesar de casada se dobrou aos prazeres do sexo com outra mulher (Fernando também se envolveu com a aeromoça); e Rodolfo, seu irmão, que morreu jovem e que a “comia” como ninguém mais comeu. Fora isso ela também aborda a perversão dentro do núcleo religioso, através de um período que viveu em casas de swing acompanhada do marido, de uma freira e dois padres.

O livro é bem pesado e vazio de pudor. Ela diz o que precisa ser dito escrachadamente e cabe ao leitor absorver ou ignorar. No mais, eu indico o livro de olhos fechados, mas indico também que se dispam de sua pureza antes de lê-lo, pode até vestir de volta depois da leitura. Não se limitem, abram sua mente e deem uma chance ao livro, foi uma experiência incrível para mim. A personagem é muito mais que uma ninfomaníaca e seu discurso vai além do sexo pelo sexo. O livro é um grito filosófico da vida, é sobre viver a vida intensamente, uma jornada de conhecimento da nossa própria liberdade escondida por debaixo da construção social pudica que outras pessoas instauraram antes de nossa existência.



 
 
 

Comments


bottom of page