Resenha #9 - Dom Casmurro
- JoãoAndrade
- 25 de set. de 2014
- 3 min de leitura
Título original: Dom Casmurro
Autor: Machado de Assis
Editora: Ática
Nº de páginas: 184
Assunto: "Seminário de Bentinho"
“Bentinho era apaixonado por Escobar”
Começo essa resenha já com polêmica. Existem muitas teorias a respeito da possível traição de Capitu, mas uma em especial me chamou a atenção e me fez empurrar com mais afinco essa leitura que empacava a cada página lida. Mas, isso é assunto pra mais pra frente da resenha. Espere lá.

Pois sim, então eu li Dom Casmurro para o Desafio dos 10 clássicos do vestibular. Era um livro que eu já pretendia ler a muito tempo. “E aí, gostou, João?” NÃO. E não me venha com “você não entendeu a linguagem” ou “Machado é meio complicado de entender de primeira”, acreditem, desde que abri a boca pra dizer que não gostei, tenho ouvido muito disso. Agora, eu já li Machado antes (Amo/Sou Memórias póstumas de Brás Cubas, e O Alienista foi um dos primeiros livros que li e realmente gostei). Meu problema com “DomCas” (como passei a chama-lo) não foi a linguagem nem a escrita do autor, foi uma coisa bastante especifica e maçante: Bentinho, o vulgo Dom Casmurro.
Metade da narrativa se limita as lamentações do narrador sobre ir ao Seminário, a outra metade é lamentando-se da vida ‘no’ seminário. Quase 70% do livro são dedicados ao tal seminário. Somente no fim é que ele se toca que gastou muitas páginas relembrando desse tempo e começa a avançar. Foi a partir daí é que fui me envolver com a história. Eu poderia passar dias falando da história do romance, mas prefiro falar de Bentinho. Esse, descontente em ser o protagonista/narrador, faz de si o mote principal. Eu até entendo que as narrativas girem em torno dos protagonistas, mas Bentinho é um narcisista extremo, nem Brás Cubas se fez história como ele.
Outras considerações: Dom Casmurro, todo tempo dá a entender que todos que estão ao seu redor são interesseiros. Tem sempre um diálogo ou reflexão que puxa essa temática. E que fique claro, a rica da história é D. Gloria, a mãe, e não ele. Tudo isso fica muito implícito nas adulações de José Dias e do pai de Capitu (o nome não me ocorre no momento).

Voltemos às polêmicas (são várias). Até hoje, o Brasil vive em dicotomia, de um lado “CAPITU TRAIDORA” e do outro, “CAPITU INOCENTE”. Apesar de aparecer só perto do final, o grande drama da história é a traição de Capitu, esposa de Bentinho. “Mas ela traiu?” Nem eu sei e nem ninguém além de Machado saberá, talvez nem ele soubesse. Mas sou #TeamCapitu não acredito na traição dela. Mas, por quê? Por que Bentinho é um homem obcecado, coisa beirando a loucura. (para que fique explicito aqui, escreverei em letras maiúsculas: ELE TINHA CIÚMES DA ATENÇÃO QUE A ESPOSA DAVA PARA O MAR).
Na outra via, temos o filho que se parece com Escobar, até anda como ele. Entretanto, o menino é descrito por toda a passagem de sua infância com uma criança com um gosto peculiar por imitar a todos. E, eu pergunto: O que impedia a criatura de imitar Escobar que convivia tanto com a família?! Bentinho que me desculpe, mas nos olhos de um louco tudo é justificativa para loucuras.
Agora, à polêmica do início. A narrativa de Bentinho já foi tema de muitas analises (coloque no Google a frase inicial da resenha, ou similar, e veja algumas delas). Antes de iniciar a leitura eu já tinha conhecimento dessa teoria. Tanto, que, durante, me deparei com muitas cenas da interação Escobar/Bentinho que dão a entender um romance entre os dois ou talvez fosse só uma amizade muito, muito, próxima (tirem suas próprias conclusões). O que vale saber é que muitos apontam que o ciúme de Bentinho não era de Capitu com Escobar, mas de Escobar com Capitu. E inclusive é destacado que, mesmo desconfiando da traição há algum tempo ele só “assassina” a esposa e o filho após a morte de sua “grande paixão”. O argumento é o seguinte: sem Escobar, Capitu era desnecessária na vida dele, pois não precisaria mais disfarçar o caso.
Para o vestibular, eu indicaria a leitura. Para a vida, também. Apesar de não ter gostado muito, conheço um número enorme de pessoas que gostam. E uma leitura, ou releitura, conhecendo algumas das hipóteses que giram em torno desse livro, podem abrir os olhos para muita coisa. (é dominio público galera, corre e baixa!)
Vale ressaltar a intertextualidade do livro. O protagonista cita o tempo inteiro outros autores e traições trágicas da literatura mundial. As citações vão de Schopenhauer à Shakespeare. E seu principal alvo é a peça Otelo, a qual, inclusive, ele assiste antes de tomar a grande decisão do desfecho do livro. Só pra finalizar, não posso deixar de citar a ironia, o sarcasmo ferrenho e o retrato da moral da sociedade da época, que são clássicos das narrativas Machadistas.
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